Por Renato Ricci
O movimento da Qualidade teve seu
auge na década de 1980 – empresas e corporações do mundo todo voltaram-se para
melhorar produtos, serviços e adequar seus processos. Os sistemas de gestão
tornaram-se populares e a “ISO” ficou conhecida como prêmio às organizações que
atendiam parâmetros mínimos requeridos para produzir e entregar produtos e
serviços confiáveis. Na mesma época tornou-se muito popular o uso de diversas
ferramentas voltadas a melhoria de gestão tais como Six Sigma, Manufatura
Enxuta (Lean), Kayzen, TOC entre outras. Mas este movimento todo teria nos
levado a um patamar melhor, e de maior qualidade e satisfação dos clientes e
consumidores?
Segundo o americano James L.
Lamprecht – consultor considerado um dos modernos gurus da Qualidade – isso
pode não ser bem verdade. Participando do evento Qualidade Fórum Global 25
anos, realizado em Salvador na Bahia, o consultor foi enfático em afirmar que
algumas organizações não souberam aproveitar a onda da qualidade para melhorar
seus produtos e processos, apenas tornaram seu cotidiano mais burocrático e
menos produtivo.
Lamprecht explica que muitas ferramentas transformaram-se em
gigantes e complexos sistemas que vêm atrapalhando a inovação e aumentando o
estresse das pessoas. “Muitas empresas jamais praticaram o que sua Missão ou
Visão estabelecidas apenas porque elas são contos de fadas”- afirma Lamprecht.
Segundo o consultor americano a globalização tem parte de culpa nisto. “Elas
(corporações) mandam pessoas às suas filiais apenas para controlar os demais –
raramente eles conhecem à fundo suas operações locais, o que causa tremendo
conflito entre os gestores.
Outro ponto importante destacado por Lamprecht
refere-se a atitude dos CEO’s jovens. Ele acredita que exista hoje um
afastamento grande e cada vez maior desses executivos do chão de fábrica – onde
as coisas realmente acontecem. “Geralmente eles recebem informações filtradas e
nem sempre verdadeiras, quando percebem um problema provavelmente não têm tempo
para reagir corretamente”, afirma o consultor.
Lamprecht menciona o caso de empresas que tentaram se tornar enxutas quanto a
pessoas e sistemas de trabalho, e depois de alguns anos pagaram caro pelo uso
excessivo destes conceitos. Muitas vezes uma grande economia pode gerar no
futuro um resultado negativo em relação a satisfação dos clientes e perda de
rentabilidade. O consultor alerta as empresas brasileiras para não seguirem o
exemplo de algumas corporações americanas que transformaram seus sistemas de
gestão em algo complexo e pouco efetivo.
Sobre o Brasil e os desafios de 2014 e 2016, Lamprecht diz acreditar que o país
tem condição de fazer um bom papel. Ele considera a qualidade de nossos
serviços razoável e comparável a outros países. Entretanto é crítico quando o
assunto é infra-estrutura, tal como a qualidade de nossos aeroportos e
transportes terrestres.
O tema apresentado é muito interessante quando vemos empresas que pregam serem
as melhores e nem sempre demonstram isso a seus consumidores e muito menos para
as pessoas que trabalham lá. Acho que vimos situações semelhantes de
organizações certificadas e premiadas que estão muito longe de serem
consideradas com uma qualidade acima das expectativas. Devemos continuar a
trabalhar nessas questões.
Publicado originalmente em: Revista Exame
Só tenho a acrescentar que o "boom" da qualidade nos anos 80, foi para compensar o atraso brasileiro em relação às tendências do mercado lá fora (muitas empresas que adotaram o TQM, 5S, CEP e outros conceitos eram multinacionais), e tudo que é feito com muita pressa, geralmente tende ao insucesso...
ResponderExcluirPergunto aos colegas que já implantaram (ou tentaram implantar) os 5S, se o fator chave para o seu sucesso (ou insucesso) não foi principalmente o fator cultural? Importar um conceito, sem adaptá-lo á cultura do povo que o está recebendo, geralmente, não garante os mesmos resultados obtidos onde foi adotado primeiramente.
Uma outra questão com a qual também me identifico é aquela que afirma que burocratizamos tanto, criando complexos sistemas à partir de ferramentas, que acabamos complicando ao invés de auxiliar. A ISO 9001:1994 tinha 20 seções com requisitos. A versão 2000 tinha apenas 8 e assim foi mantida em 2008.
Um sinal positivo desta evolução (simplificação mediante integração) está nas tendências para as próximas versões de 2015, que o Francesco De Cicco vem divulgando no grupo Sucesso Sustentado no LinkedIn, tanto para a ISO 9001 quanto para a ISO 14001, já alinhadas à estrutura e conceitos da gestão de risco (ISO 31000).
A qualidade não apenas era... continua sendo e, respeitando um dos requisitos presentes desde sua primeira versão, vem melhorando continuamente...
O artigo é realmente muito bom e agradeço à Giovana Rossa (http://www.linkedin.com/pub/giovana-rossa/46/3a4/477), do grupo virtual no LinkedIn por tê-lo resgatado!