29/06/2011
Faz um bom tempo eu recebi um comentário de uma leitora: “Gostaria que vc pudesse escrever um texto sobre a falta de profissionalismo dos colaboradores nas empresas (faltas sem aviso, muitos atestados, falta de trabalho em equipe, falta de conversar com os colegas de trabalho, brigas, soberba, etc).” – porém até agora não havia pensado em algo relevante para publicar sobre o assunto… Desculpe a demora, Fabiana, mas a inspiração tem seu próprio timing e seus caprichos…
Atuar com Gestão da Qualidade nos obriga, às vezes, a ser meio psicólogos também. Essa área está muito ligada à parte de Recursos Humanos (não é à toa que a norma tem um requisito só para esse tema, o 6.2) pois afinal sem pessoas não há Programa de Qualidade que funcione!
Quando tudo está bem projetado, analisado, programado, eis que vem um fator desestabilizante e imprevisível: o fator humano; e em muitos casos põe tudo a perder… Sabe o que falta nessas situações? Profissionalismo, ou Ética Profissional, como preferirem…
Para a Gestão da Qualidade as pessoas são imprescindíveis, mas ela considera assim as pessoas que agem com seriedade e dedicação, as pessoas que agem com profissionalismo. Para essas pessoas, “o combinado não é caro” e ser transparente e ético é antes de uma obrigação, um traço natural. Essas pessoas se comprometem com os projetos que participam, se comprometem com o trabalho que se propuseram a fazer e pelo qual aceitaram as condições definidas em contrato.
Uma vez um porteiro da empresa me comentou que estava insatisfeito, pois na outra empresa em que trabalhou ele ganhava mais, era registrado como Segurança; e aqui se limitava a receber notas, visitantes e outras pequenas tarefas. Segundo ele, o trabalho era maçante e pouco reconhecido monetariamente. – Eu lhe perguntei então: “Quando você aceitou o trabalho aqui, não lhe informaram o que ia fazer? O salário oferecido? Por que aceitou, se antes tinha uma condição melhor?” – A resposta eu já sabia: “Quando a gente está parado, aceita qualquer coisa para manter a família.” – É justo. Mas também é importante saber que se estamos aceitando algo que consideramos inferior, mesmo assim deveríamos nos comprometer a fazer o melhor possível enquanto estivermos ali. – Dias depois esse porteiro me chamou e disse que tinha pensado no que eu falei. Disse que percebeu que, mesmo começando por um nível mais baixo, com dedicação ele podia se destacar e conseguiria subir. – Ele entendeu a mensagem. E hoje é encarregado de setor.
Quem não se compromete verdadeiramente não tem do que reclamar! Se “quando a gente está parado, aceita qualquer coisa para manter a família”, devíamos saber agradecer quem nos ofereceu aquele pouco e nos dedicarmos para ter direito de cobrar no futuro uma melhoria. Faltas sem aviso, atestados desnecessários, mal relacionamento com os colegas, é que não vão nos levar a lugar algum!
A Gestão da Qualidade talvez esteja iludida em considerar um ambiente perfeito onde só existam pessoas comprometidas e sérias, um ambiente ideal para a Qualidade e a Produtividade florescerem. Enquanto existirem esses rebeldes sem causa que só reclamam, não colaboram e, se estão em cargos mais elevados apenas sugam seus subordinados, esse ambiente não vai existir nunca! Na prática, Falconi tem razão quando diz que demitir deve ser um ato natural, depois de dar oportunidades e ver que elas não foram aproveitadas pelo profissional. Talvez seja essa a maneira de criar esse ambiente ideal…
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