Por Cláudio Dodt
Scott Adams – Dilbert : Cartoon amplamente divulgado
mas que não tem igual quando o assunto é mostrar a fragilidade de um
PRD.
Planos de recuperação de desastres (PRD) e continuidade de negócios (PCN) nos
preparam para lidar com crises e podem ser resumidos como diversas ações
preventivas ou corretivas que são sistematicamente estabelecidas e condensadas
em um plano que, quando ativado, deve reger ações de pessoas chave da
organização e seus resultados podem simplesmente ser a diferença se a
organização vai estar lá amanhã.
Entretanto, como já dizia herr Helmuth:
“Nenhum plano de batalha sobrevive ao contato com o inimigo.”
Esta máxima do estrategista pode ser perfeitamente aplicada a qualquer cenário
de crise onde sempre vai existir um certo nível de incerteza.
Voltando ao tópico deste artigo, existem diversos motivos pelos quais mesmo o
melhor dos planos pode falhar.
Muitos planos falham desde o seu início devido a uma análise de riscos ou
mesmo uma análise de impacto nos negócios mal elaboradas e que não representam a
realidade da organização.
Hoje vamos focar em um dos aspectos mais importantes e que pode simplesmente
acabar com o mais bem elaborado dos planos. Para isso vou pedir a ajuda de minha
série preferida: Os Simpsons.
Mr. Burns e a simulação de incêndio
Recomendo parar esta leitura por alguns segundos e dar uma olhadinha neste
vídeo do episódio “A montanha da loucura” dos Simpsons:
os simpsons-a montanha da loucura por marte46 no Videolog.tv.
Excelent! |
Se você está sem paciência, segue um resumo: Um belo dia, estando entediado
no trabalho o Sr. Burns – dono da usina nuclear de Springfield – resolve agitar
as coisas e escolhe um cenário comum a qualquer empresa – um “velho e bom”
fire drill (teste de evacuação de incêndio).
O que se vê a seguir são uma série de trapalhadas no estilo Simpsons
culminando em Homer trancando a maioria dos empregados e perguntando se tinha
ganho o premio por ser o primeiro a sair do escritório. Nada mais
longe da realidade, correto?
Não. Posso atestar em primeira mão que já conduzi um teste semelhante em uma
instituição financeira que resultou no “Homer local” pegando uma vassoura para
tentar silenciar o alarme de incêndio que o estava importunando. Nice!
Fire! |
Se dermos uma olhada mais aprofundada no exemplo dos Simpsons logo vamos
descobrir os principais motivos de falha (que acredito serem os mesmos do meu
exemplo real):
Erro I: Nem os melhores planos duram para sempre
Primeiramente vamos olhar os cenários de teste a disposição de Mr. Burns:
• Alerta de derretimento (do reator nuclear)
• Ataque de cachorros
loucos
• Ataque de Zepelim
• Evacuação de Incêndio
Como vimos em Fukushima, um
alerta de derretimento é obviamente pertinente a uma usina nuclear e quanto a
cachorros loucos realmente não sei o que dizer.
Porém, o último ataque de Zepelim foi registrado em 1940 ainda durante a
segunda guerra mundial.
Eis o primeiro grande erro. Assumindo que a série dos Simpsons se passava nos
anos 90, acredito que deixar um plano que caiu em desuso por 50 anos não possa
ser considerado uma boa prática.
Infelizmente, este cenário me lembra muito mais a realidade do que ficção
pois como consultor é algo com que me deparo em empresas em diversos portes com
uma frequência que considero nada menos que assustadora.
Erro dois: Estamos preparados!
Vamos a uma breve lista das pequenas trapalhadas do vídeo dos Simpsons:
1. Carl pensa que o alarme de incêndio é o micro-ondas avisando que as
pipocas estão prontas
2. Lenny espera o café ficar pronto antes de sair
3.
Vários empregados correm em aparente desespero
4. Um empregado usa um
extintor para “se defender”
5. Homer volta a seu escritório para buscar um
retrato
6. Um empregado corre desesperado em círculos sem tomar nenhuma outra
ação aparente
7. O plano de evacuação deveria ser concluído em 45 segundos,
mas o Smiters não sabe informar quanto tempo levou, pois o cronometro só marca
até 15 minutos
E a cereja do bolo:
8. Homer (que para quem não sabe é inspetor de segurança) tranca os demais
empregados e pergunta se ganhou um premio!
Em resumo o que estamos vendo é:
Novamente devo dizer que os erros acima apresentados não poderiam estar mais
próximos da realidade.
Dentre os muitos exemplos que já vi pessoalmente, ressalto o caso de uma
funcionaria que não queria deixar o escritório sem salvar um documento e enviar
por email e diversos casos onde pessoas voltaram para buscar algum tipo de
pertence pessoal ou da empresa.
Esta é a infeliz realidade dos planos informais que se baseiam na intuição
das pessoas. A criação de uma cultura institucional é a chave de sucesso de
qualquer PRD ou PCN. Lembre-se sempre: mesmo com uma boa preparação, a reação
dos seres humanos é um dos pontos mais imprevisíveis em momentos de crise e em
especial durante desastres.
Como escapar dessas armadilhas?
Presumir é a chave do insucesso e a base para criação de planos
ineficazes.
- Presumir que algo é conhecido, quando na verdade ninguém conhece.
- Presumir que algo é simples, quando não o é.
- Que existe alguém competente tomando conta deste algo!
Planos de recuperação de desastres ou de continuidade de negócios são
elementos “vivos” e devem ser tratados desta forma, não basta criar um bom plano
e acreditar que sua organização estará protegida.
Qualquer bom profissional de continuidade de negócios vai lhe garantir que os
dois aspectos mais importantes para garantir a pertinência de um PCN a sua
organização são revisão e treinamento.
A dinâmica da maioria das empresas acarreta em aquisições, fusões, novos
negócios, entrada e saída de colaboradores. Planos devem ser revisados com uma
periodicidade regular (recomendo intervalos não maiores que 12 meses) e
adequadamente comunicados a todos os indivíduos envolvidos.
Testes periódicos são uma parte essencial, mas cuidado, não faça como o Mr.
Burns que aprendeu da forma mais difícil: um teste mal planejado pode
ter um impacto bastante similar a um desastre real!
—
Publicado originalmente em: GRC - Governança, Riscos e Conformidade
Acessado em 30/12/2012 - 22:40 - Horário de Brasília
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