Por Alberto Oliveira, especial para o Yahoo! Brasil
Paulo Ricardo de Holanda tem 41 anos e mora no Parque Imperial, Osasco, ponto extremo da Grande São Paulo. O bairro vive processo de crescimento vertiginoso, influenciado pela proximidade do Rodoanel – a rodovia que circunda a capital paulista, que finalmente começa a sair do papel. Paralelamente ao crescimento da região, onde comprou uma casa de três quartos, já quitada, a carreira profissional dele também decola.
No próximo ano, Paulinho, como é conhecido entre amigos, vai formar-se engenheiro mecânico pela Uniban, universidade privada de apelo popular - aquela mesma da Geisy. É mais um passo para conquistar uma sonhada promoção na Eftec, multinacional da área de autopeças, onde trabalha há 10 anos.
Cristina Brito de Holanda, casada com Paulinho, compartilha com ele a mesma expectativa de ascensão profissional. Auxiliar de enfermagem em hospital público, faz o segundo ano do curso superior de Enfermagem. Além do fato de ambos ingressarem na faculdade depois dos 35 anos, o casal tem outros pontos em comum. Cresceram e vivem no mesmo bairro e cada um deles possui seu próprio carro: um Renault Clio zero, que ela ainda paga as prestações, e um Honda Civic 2005, quitado por Paulinho.
Paulinho e Cristina têm dois filhos e renda familiar de aproximadamente R$ 4.500. Fazem parte de uma estatística que se tornou novidade no Brasil nos últimos anos. São integrantes de uma nova classe média, identificada em estudos da Fundação Getúlio Vargas (FGV) , promovido pelo economista Marcelo Neri. A pesquisa aponta o crescimento numérico e fortalecimento da classe C, fenômeno impulsionado pelas políticas distributivas implementadas nos últimos anos, que deram ênfase ao aumento real do salário e aos programas assistenciais do governo.
Números
“Entre 2003 e 2008, 19 milhões de pessoas cruzaram a linha da pobreza, que caiu 43% nesse período”, afirma Neri. A soma das chamadas classes A, B e C, que compõem a parte de cima da pirâmide sócio-econômica da população, cresceu em 32 milhões de pessoas nesse período, o que equivale à metade da população francesa.
“Entre 2003 e 2008, 19 milhões de pessoas cruzaram a linha da pobreza, que caiu 43% nesse período”, afirma Neri. A soma das chamadas classes A, B e C, que compõem a parte de cima da pirâmide sócio-econômica da população, cresceu em 32 milhões de pessoas nesse período, o que equivale à metade da população francesa.
“Se seguirmos esse passo, até 2014 reduziremos a pobreza à metade e vamos incorporar mais 36 milhões de pessoas às classes ABC. É mais do que uma França inteira em 11 anos”, prevê o pesquisador da FGV.
Trata-se de uma mudança significativa, principalmente quando se observa que a desigualdade de renda no país vem caindo a uma taxa maior que a do próprio crescimento do PIB. Segundo estudo da FGV, a renda per capita dos 10% mais ricos aumentou em 1,49% entre 2001 e 2009, enquanto a renda dos mais pobres cresceu a uma taxa anual de 6,79%. Esse fenômeno também ocorreu em outros países emergentes, porém com intensidade bem menor do que a brasileira.
Após a crise financeira mundial de 2009, grandes companhias colocaram esse novo perfil de consumidor em sua alça de mira. O motivo é simples: pobre paga as contas em dia, independentemente da variação do dólar, do aperto do crédito ou da política macroeconômica do governo.
Desejos
Recém-chegados ao mercado de consumo, os integrantes da chamada nova classe média não querem apenas consumir mais. Querem encontrar qual papel passarão a representar na sociedade. Pesquisa de consumo popular realizada pela consultoria Troiano, em parceria com o Ibope Inteligência, indica que as marcas são um fator importante de no projeto de aspiração social desse público. O estudo, que ouviu 3.000 entrevistados em nove capitais brasileiras, aponta a resistência das classes populares em comprar produtos de qualidade inferior. Vale a pena pagar mais por produtos bons, indica a pesquisa.
Recém-chegados ao mercado de consumo, os integrantes da chamada nova classe média não querem apenas consumir mais. Querem encontrar qual papel passarão a representar na sociedade. Pesquisa de consumo popular realizada pela consultoria Troiano, em parceria com o Ibope Inteligência, indica que as marcas são um fator importante de no projeto de aspiração social desse público. O estudo, que ouviu 3.000 entrevistados em nove capitais brasileiras, aponta a resistência das classes populares em comprar produtos de qualidade inferior. Vale a pena pagar mais por produtos bons, indica a pesquisa.
Um outro estudo, desenvolvido pela agência de publicidade McCann Erickson, ajuda a compreender a cabeça da classe C, que prefere se definir como “classe média baixa”. Trata-se de uma parcela da população que não passa fome, mas também não tem dinheiro sobrando. Sua principal preocupação consiste em manter as conquistas dos últimos anos, consumir sem preocupação e ter acesso aos bens que antes eram privilégio da elite.
A nova classe média, entretanto, não quer ter a mesma vida da classe A. Mesmo com a melhoria de vida, 53% dos entrevistados continuariam morando na mesma casa – opção adotada por Paulinho e Cristina, de Osasco. Produtos e lugares considerados chiques demais são rejeitados por esse público, que não quer deixar de ser o que é. Apesar de achar importante o crédito, 81% sente vergonha em tomar empréstimos e 91% acham o processo muito burocrático.
A partir do estudo, a McCann decidiu criar a Bairro, agência voltada ao segmento popular. Inaugurada em 2009, a nova unidade de negócios também conta com a experiência nada desprezível de Washington Olivetto, cuja agência – W/Brasil – foi incorporada pela McCann.
“As empresas já trabalham há pelo menos dez anos com estratégias para atender o consumidor popular. Isso não é novidade. O está ocorrendo agora é que essas estratégias estão amadurecendo”, pontua o economista Fábio Mariano, professor titular da disciplina Comportamento do Consumidor, da Escola Paulista de Propaganda e Marketing (ESPM).
Ao lado do surgimento de marcas específicas, como os supermercados Compre Bem e Dia % e da linha de cosméticos Juquiti, aponta Mariano, outras tradicionais passaram a direcionar ações para a nova classe média. “É o caso da marca de cosméticos Seda, da Unilever, e mesmo da Natura”, diz.
Uma das áreas mais sensíveis às demandas do consumidor emergente, a telefonia celular e a internet também possuem peso na hora de influenciar o consumo desse público. Não é à toa as operadoras que investem pesadamente na classe C.
Na Vivo, maior operadora de telefonia celular do país, 60% dos downloads de música ocorrem atualmente no segmento pré-pago. Além disso, os assinantes dessa modalidade já constituem 70% da base de clientes da companhia.
Já a TIM apostou em oferecer serviços acessíveis de internet por celular, por meio do produto Infinity web. No comercial da TV, a operadora utiliza sutileza para mostrar a pessoas comuns, num ponto de ônibus, por exemplo, a possibilidade de acessar a rede pelo celular, e pagando apenas R$ 0,50 por dia.
fonte: http://br.noticias.yahoo.com/indepth/cmedia_1.html
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