Fato comum nos EUA, Canadá, Japão e em vários países da Europa, a validação de métodos alternativos ao uso de animais nunca ocorreu na América Latina. Contudo, uma iniciativa do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS)
da Fiocruz pretende, de forma inédita no continente latino, fazer
reconhecer um ensaio alternativo sob o ponto de vista legal e
regulatório. “Nossa intenção é validar e, mais que isso, aprender a
validar para futuramente podermos trabalhar com outras metodologias ainda inéditas”,
explica o biólogo Octávio Presgrave, coordenador do Centro Brasileiro
de Validação de Métodos Alternativos (BraCVAM), criado pelo e situado no
INCQS.
A metodologia a ser validada chama-se HET-CAM. Um ovo de galinha embrionado tem parte de sua casca retirada para se expor uma membrana interna conhecida como corioalantoide.
Nela, os técnicos podem realizar estudos que simulem os efeitos
vasculares semelhantes aos que ocorrem no olho humano, quando exposto a
xampus e colírios, permitindo defini-los como irritantes ou não. O
HET-CAM, caso validado, deverá compor uma bateria com outros testes que,
juntos, visam substituir o atual uso de coelhos – se o teste com esses
animais é único; sua alternativa exige a composição entre várias etapas,
sendo o HET-CAM apenas uma delas. Presgrave diz se tratar de um método
relativamente simples: “optamos por essa simplicidade por ser nossa
primeira vez; assim poderemos partir com mais segurança para outros mais
complexos no futuro”, diz.
A validação de métodos alternativos costuma ser
bastante cara é só ocorre agora devido à importante ajuda do Ministério
da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) por meio de sua Rede Nacional
de Métodos Alternativos (Renama) e do CNPq. Contudo, uma vez efetuada, o
novo ensaio pode representar uma grande economia. “No caso do HET-CAM,
por exemplo, ela pode chegar a ser de até 70%, pois o manuseio de
coelhos é mais dispendioso”, contabiliza Presgrave.
O estudo de validação está seguindo a seguinte ordem: primeiramente,
nos dias 21 e 22 de maio, aconteceu uma reunião, na Fiocruz, entre os
coordenadores e os institutos que efetuarão os ensaios – são eles o EVIC
da França, a USP de Ribeirão Preto e a Universidade Federal de Goiás.
“Por ser do grupo gestor, o INCQS não poderá atuar no laboratório”,
explica Presgrave. A seguir, ainda reunidos na Fiocruz, entre os dias 23
e 27 de maio, o EVIC, escolhido como laboratório líder, estabelece o
protocolo a ser seguido pelos outros participantes. Depois, cada
instituto fará o ensaio em suas próprias dependências. Por fim, em data
ainda a ser definida, os resultados serão reunidos e, a partir análises
estatísticas comparativas, a metodologia poderá ser ou não validada.
Para conduzir todo o processo, foi convocado um dos maiores e mais
experientes especialistas no mundo em métodos alternativos e suas
validações: o bioquímico Thomas Hartung, ex-diretor do Centro Europeu de
Validação de Métodos Alternativos (ECVAM) e atualmente professor da
Universidade John Hopkins, nos EUA.
Em caso de sucesso, o método alternativo poderá então ser
regulamentado, ensinado e empregado rotineiramente. “Queremos colocar o
Brasil no cenário mundial de validação, pois até aqui, os métodos
precisavam ser validados lá fora para só então nós os reconhecermos.
Pela primeira vez, isso poderá seguir um caminho contrário”, finaliza
Presgrave.
Publicado originalmente em LABNetwork
Acessado originalmente em 04/06/2015 - 10:20, Horário de Brasília
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