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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Por que não somos criativos? - É hora de repensar como desenvolver nos alunos a capacidade de criar e inovar

Por Marcos Hashimoto*
 Divulgação
No mês passado, recebemos no Insper representantes de seis escolas de negócios para brigarem pelo primeiro lugar do Innovation Challenge Brasil, a principal competição de inovação corporativa entre MBAs no país. Realizado desde 2009, o Innovation Challenge proporciona aos competidores, todos alunos das melhores escolas do país, uma oportunidade única para demonstrar sua capacidade de criar soluções inovadoras para desafios apresentados por grandes corporações.

Estudando as ideias apresentadas por mais de 50 equipes para responder aos desafios de PepsiCo, Diageo e Dpaschoal, assim como outras 40 apresentadas para PepsiCo e Bunge na edição do ano passado, cheguei à triste constatação que nós, cursos de MBA em geral, lamentavelmente não estamos sendo bem-sucedidos em desenvolver essas competências nos alunos.

Hoje é difícil encontrar alguma empresa que não esteja preocupada em melhorar sua competitividade por meio da inovação, seja em
produtos, processos ou negócios. Em alguns setores, inovar significa, mais do que um diferencial, uma questão de sobrevivência. Iniciativas como o Innovation Challenge se tornam relevantes na medida em que empresas veem nesse canal uma forma de conseguir ideias diferentes e novos enfoques para seus negócios. Além, é claro, da possibilidade de descobrir novos talentos.

Sendo esta uma necessidade evidente do mercado, faço a seguir algumas considerações sobre os motivos que levam as pessoas a perder sua capacidade criativa:

- Excesso de informações. Até pouco tempo, sofríamos com a carência de informações, e o advento da
internet mudou isso de uma forma avassaladora. Agora, ao contrário, somos atolados por newsletters, blogs, twitters, e-mail marketing, boletins, RSS feeds, de todo e qualquer tipo. O futurólogo americano Alvin Toffler, prevendo os vieses da recém-constituída sociedade do conhecimento, advertiu: “Uma das competências mais valorizadas no futuro não será a capacidade de aprender, e sim a capacidade de desaprender para aprender o novo”. Quando todos estamos expostos às mesmas fontes de informação, perdemos a capacidade de pensar diferente dos demais. Acabamos adotando uma linha de pensamento padronizada, que é extremamente prejudicial para a geração de ideias diferentes.

- A prisão dos paradigmas. Ao longo da nossa vida, aprendemos o jeito certo de fazer as coisas, nossos paradigmas - os padrões que dão segurança e previsibilidade a tudo o que fazemos na vida. Esses padrões são necessários para que as pessoas encontrem referências para adequar seu comportamento de forma que seja socialmente aceita. No entanto, quando passamos a acreditar que esse padrão é o único jeito de fazer as coisas, passa a ser algo péssimo para o pensamento criativo. É por causa dessa prisão, dessa paralisia, desses bloqueios mentais, que ficamos presos a respostas pré-determinadas, limitando nossa capacidade de vislumbrar novos caminhos, novas alternativas, novos padrões.

Uma das coisas que reparei na minha experiência acadêmica é que os jovens são naturalmente mais criativos do que os executivos e que as crianças são mais criativas do que os jovens. Existe uma relação invertida entre formação educacional e criatividade. Quanto mais aprendemos, mais paradigmas criamos, e isso nos leva a gerar ideias que estejam dentro de um escopo de realidade limitado pelos nossos paradigmas. A expressão “pensar fora da caixa” significa exatamente a capacidade de sair da prisão dos paradigmas para buscar alternativas regidas por outros paradigmas que não temos. A frase que mais gosto sobre isso é atribuída a Jean Cocteau: “Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez”.

- Universo de realidade limitado e restrito. Repare bem: as pessoas mais criativas que você conhece são justamente aquelas que acumularam mais experiências, aprenderam muitas coisas diferentes, mudaram algumas vezes de
emprego, conhecem outros países e culturas, possuem uma ampla e variada rede de relacionamentos. Isso não é por acaso. Quanto maior os estímulos diferentes que passamos na nossa vida, maior a capacidade de “conectar pontos” que vão levar a ideias realmente inovadoras e criativas. A capacidade de criar é diretamente proporcional à diversidade contida em nossa mente.

- A pressão do tempo. “Não tenho tempo!” é uma das expressões mais clichês que encontramos no mundo empresarial. As pressões vêm de todos os lugares, de todas as formas e com várias intensidades e origens. Nada pode ser mais prejudicial à capacidade criativa do que a falta de tempo para relaxar, desligar-se do problema ou da situação e permitir que os pensamentos vaguem livremente e sem amarras racionais e conscientes. Essa é a ideia de Domenico de Masi (O Ócio Criativo), que postula o desprendimento do problema como forma de encontrar soluções criativas. Ou será que você nunca teve uma ideia brilhante no meio da madrugada, tomando uma chuveirada ou sentado na privada?

- Medo de errar. Desde criancinhas, aprendemos que o erro é penalizado, que devemos acertar sempre. No mundo empresarial, a postura “fazer certo sempre” e “erro zero” é mais enfatizada ainda. Não existe inovação sem algum grau de tolerância ao erro. Tentativas frustradas fazem parte do processo de aprendizado. Muitas boas ideias só surgem depois de várias más ideias. Por causa disso, acabamos por desenvolver uma cultura de autocrítica muito forte, que nos faz podar nossas próprias ideias nascentes simplesmente porque podem não ser bem vistas, podem nos ridicularizar, nos expor demais ou nos prejudicar de alguma forma. O brainstorming é uma técnica bastante conhecida de criatividade e é baseada no pressuposto de que criatividade é ter muitas ideias e jogar fora as ruins.

Muito bem, vamos parar por aqui. Quantas escolas exploram técnicas de criatividade? Quantos MBAs desenvolvem ativamente esta competência? Quantos cursos oferecem oportunidades para ampliar horizontes, aceitar o erro, permitir o ócio, quebrar paradigmas e limpar a mente? Eu não conheço nenhum. Não estaria na hora de repensarmos nossos cursos para preparar os alunos para atender esta tão urgente demanda das empresas?

* Marcos Hashimoto é professor de empreendedorismo do Insper, consultor e palestrante (http://www.marcoshashimoto.com/)

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