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quarta-feira, 2 de maio de 2012

O Mito do Líder Servidor – III



Por: 




Neste mundo sofrereis tribulações,
mas tende fé e coragem! Eu venci o mundo.
João 16:33

Nenhum de nós há de contestar que as transformações de mundo são cada vez mais rápidas e profundas. A cada dia que passa somos bombardeados por novas informações que necessariamente fazem com que pensemos em novos valores e em novas formas de consumir.

Nas questões profissionais não é diferente. A batalha pela sobrevivência profissional é acirrada e empresas que hoje são referência em seu segmento, amanhã podem estar à beira da falência. Tudo em nome da velocidade das transformações, na velocidade dos mercados, na velocidade das comunicações. Há quem diga que tudo isso é benéfico. Que faz com que o homem se adapte mais rapidamente às suas novas necessidades. Esquecem apenas de salientar quem define e determinas estas necessidades?

Com base neste trágico diagnóstico como não ser resilente? Como não saber se adaptar às mudanças? Não é uma questão de escolha, é imposição. Aqui cabe uma célebre máxima de Marx: os homens fazem sua estória, mas não a fazem como querem.

Mas afinal, o que vem a ser resiliência? O que significa ser resiliente?

Uma boa definição é: Resiliência é a capacidade de se adaptar a situações novas e contrárias.[1]
Para Cláudia Piereck da Cunha resiliência vem do latim resilio, que significa voltar ao estado natural. Esse termo é utilizado pela física para expressar a capacidade de um material voltar ao estado natural depois de ter sofrido uma pressão ou um choque. A engenharia chama de resilentes os materiais mais resistentes à pressão. No campo das ciências humanas, resilientes são aquelas pessoas que possuem maior capacidade de lidar compressões do ambiente, superar desafios e circunstâncias desfavoráveis.[2]

Seja como for resiliência está intimamente ligado à adaptação. Ou em termos populares “jogo de cintura”. A pessoa que sabe lidar com as adversidades. Que tira proveito de uma situação ruim e a reverte em seu benefício.

Dada estas explicações, parece bem simples ser resiliente, não? Quem já não passou por algum “aperto”, por alguma dificuldade e por fim acabou de uma forma ou de outra, sozinho ou com a ajuda de alguém, revertendo à situação.

De forma poética podemos definir esta questão da resiliência com a letra da música de Jorge Aragão “Volta por Cima” (os grifos são nossos):

Chorei
Não procurei esconder
Todos viram, fingiram
Pena de mim não precisava
Ali onde eu chorei
Qualquer um chorava
Dar a volta por cima que eu dei
Quero ver quem dava
Um homem de moral
Não fica no chão
Nem quer que mulher
Lhe venha dar a mão
Reconhece a queda
E não desanima
Levanta, sacode a poeira
E dá a volta por cima

Resiliência é isso, simples assim. O difícil é quando definem para nós o que é ser resiliente, o que é que devemos fazer para sermos resilientes, sem se levar em consideração as questões sociais e morais que envolvem (ou mesmo podem envolver) a resiliência.

Meu maior exemplo de resiliência é a do apóstolo Paulo. Mesmo à frente de diversas dificuldades e com o desafio de pregar a Boa Nova aos gentios e enfrentar a fúria dos judeus ortodoxos de sua época levou a bom termo sua missão a ponto de poder proferir as palavras: “Combati um bom combate, completei a corrida, perseverei na fé!” [3]

Passemos agora à resiliência empresarial.

No meu entendimento parece bastante pertinente que as empresas que querem se manter no mercado devem ser necessariamente resilientes. Sem esta capacidade de superar as crises, sejam elas internas ou externas à empresa, fica extremamente difícil auferir lucros.

Ainda citando Cláudia Peireck da Cunha[4], em seu artigo ela cita várias características que identificam ou que as empresas resilientes devem ter. Duas dessas características me chamaram mais a atenção.
Uma delas é o reconhecimento da empresa aos esforços de seus funcionários, ou seja, o funcionário que se sente valorizado pela compania.

Outro ponto de resiliência empresarial, segundo a autora, é que “(...) Estruturas rígidas com muitos níveis hierárquicos não são recomendáveis.”

Analisemos estes dois aspectos. Claro que todos esperemos que a empresa nos valorize enquanto seus funcionários e é isso, certamente, que os empresários e acionistas querem também. A questão da valorização das pessoas pode até constar da missão da empresa.

Também acredito que seja assim. O detalhe é que a empresa é um ente jurídico dotado de personalidade[5], sendo assim é individualizada e autônoma.

O foco da empresa é a exploração econômica de um nicho de mercado. Então a quem cabe valorizar seus funcionários? Teoricamente deveriam ser as lideranças que acompanhando e observando o bom desempenho de seus funcionários para que a empresa possa alcançar seus objetivos, acabam por reconhecer estes esforços de uma forma ou de outra.

No entanto, tenho observado, nas diversas empresas nos quais já pude atuar, é que este reconhecimento, quando existe, ou é injusto (se reconhece quem efetivamente nada fez de grande para merecê-lo) ou é insuficiente, ou seja, é quando o funcionário abre mão de uma série de ações particulares para fazer valer as ações empresariais e no fim avalia que seu esforço não foi proporcional ao reconhecimento – reconhecimento este que pode ser verbal, material e até pecuniário.

Se ser uma empresa resiliente é ser uma empresa que valoriza seus funcionários, então, a empresa tem que ter em seus quadros líderes que sejam igualmente resilientes para que se possa promover de forma eficaz a valorização.

Aqui, mais uma vez se formos lançar mão da teoria de Maslow[6], iremos verificar que as pessoas querem sim o reconhecimento, mas não uma premiação propriamente dita. Neste sentido, e conversando com vários colegas profissionais, o que eles mais querem é uma autonomia para poder trabalhar, assumir seus próprios riscos, poder inovar à sua maneira, a fim de obter o mesmo resultado para a empresa, que nada mais é do que: lucro.

Para poder exercer esta autonomia e conseguir galgar o reconhecimento da empresa, a empresa não deve possuir, na minha visão, uma rígida escala hierárquica.

Hoje, independente da atuação da empresa, possuir vários níveis de hierarquia é totalmente prejudicial para sua administração. Justamente por ser fortemente hierárquica a empresa perde a sua capacidade de resiliência, ou seja, a tomada de decisões para se sair de uma crise são mais complexas e burocratizadas.

Tanto de cima para baixo como de baixo pra cima, as informações custam a chegar e quando chegam ou já é tarde ou elas chegam deturpadas, com ruído. Não é atoa que no final dos anos 90 houve um crescimento enorme dos canais de comunicação (iremos tratar disso em outro texto) do tipo “fale com o presidente”.

Passemos o entendimento que demonstramos até o momento sobre a resiliência para o líder servidor.

Não há o que questionar que um líder servidor deve, necessariamente, ser resiliente. A questão é se ele efetivamente o é. Se ele não confunde a resiliência com mera superação (da mesma forma que se confunde o sentimento de dó com compaixão).[7]

Aqui está um ponto importante: em lugar de prover o que pensamos que as pessoas precisam, devemos descobrir o que elas veem como prioridades. O que as preocupa? Quais são seus problemas? O que elas sentem que precisam?[8]

Este é um ponto da resiliência de um líder servidor. Saber, além de poder superar suas dificuldades, entender a de seus liderados. Tem compaixão e não dó.

Mais uma vez o meu maior exemplo de líder servidor com forte característica resiliente é o apostolo Paulo. Se analisarmos as dificuldades que ele mesmo descreve em 2 Coríntios 11:23-28[9] verificamos facilmente o que vem a ser um líder servidor com resiliência.

Pesa sobre o líder de hoje uma grande responsabilidade de poder fazer com que os outros possam ser influenciados positivamente por suas ações. Como podemos observar nesta série de argumentos que temos feito acerca do mito do líder servidor, esta tarefa não é trivial e ainda ter que suportar o peso desta responsabilidade faz do líder um verdadeiro servidor.



[1] Esta definição vem da lição da Escola Sabatina de 12 a 18 de fevereiro de 2011, que trata da questão da resiliência.http://www.cpb.com.br/htdocs/periodicos/licoes/jovens/2011/lj812011.html#terca1. Acessado em 30/4/2012.
[2] CUNHA, Cláudia Piereck da. Resiliência: Competência Essencial para o Sucesso de Pessoas e Empresas no Novo Milênio. Em Administração de Organizações Complexas. Organizador João Pinheiro de Barros Neto. Editora Qualitymark. Rio de Janeiro, 2009.
[3] 2Timóteo 4:7
[4] CUNHA, Cláudia Piereck da. Resiliência: Competência Essencial para o Sucesso de Pessoas e Empresas no Novo Milênio. Em Administração de Organizações Complexas. Organizador João Pinheiro de Barros Neto. Editora Qualitymark. Rio de Janeiro, 2009. p. 60
[5] Personalidade jurídica é o fato pelo qual um ente, no caso a sociedade, torna-se capaz de adquirir direitos e contrair obrigações. TEIXEIRA, Tarcísio. Direito Empresarial Sistematizado. Editora Saraiva. São Paulo,2001. p. 145
[6] necessidades de estima, que passam por duas vertentes, o reconhecimento das nossas capacidades pessoais e o reconhecimento dos outros face à nossa capacidade de adequação às funções que desempenhamos; emhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Hierarquia_de_necessidades_de_Maslow . Acessado em 01/05/2012. Vale a pena navegar neste site, pois ele apresenta uma sucinta, mas eficiente exposição da teoria de Maslow.
[7] Dó: expressão de grande tristeza e mágoa por alguém, por si ou por alguma coisa; pesar
Compaixão: sentimento piedoso de simpatia para com a tragédia pessoal de outrem, acompanhado do desejo de minorá-la; participação espiritual na infelicidade alheia que suscita um impulso altruísta de ternura para com o sofredor
[8] Calçando os sapatos das pessoas. Lições da Escola Sabatina emhttp://www.cpb.com.br/htdocs/periodicos/licoes/adultos/2012/li422012.html. Acessado em 30/04/2012.
[9] São servos de Cristo? Eu ainda mais, me expresso como se tivesse enlouquecido, pois trabalhei muito mais, fui encarcerado mais vezes, fui açoitado mais severamente em perigo de morte várias vezes.
Cinco vezes, recebi dos judeus trinta e nove açoites.
Três vezes fui espancado com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes sofri naufrágio, passei um dia e uma noite exposto à fúria do mar.
Muitas vezes, passei por perigos em viagens, perigos em rios, perigos entre assaltantes, perigos entre meus próprios compatriotas, perigos entre os gentios, perigos na cidade, perigos nos deserto, perigos no mar, perigos em falsos irmãos.
Trabalhei arduamente; por diversas vezes, fiquei sem dormir, passei fome e sede, e, muitas vezes atravessei longos períodos em jejum; suportei frio e nudez.
Além de tudo isso, pesa diariamente sobre mim a responsabilidade que tenho para com todas as igrejas. Bíblia de Estudos King James. Novo Testamento. Editora ABBA Press. São Paulo, 2007.

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